Earth, Milky Way: punctum books, 2019. 166 pages, illus. ISBN-13: 978-1-950192-59-5. DOI: 10.21983/P3.0270.1.00. OPEN-ACCESS e-book and $20.00 in print: paperbound/5 X 8 in.

Como confrontar a vitimização ao recusar o papel da vítima? Como, depois do trauma e do abuso, é possível recuperar um sentido das possibilidades da vida e mergulhar de cabeça em sua busca, sem endurecer defensivamente os limites do eu? Sem imunizá-lo contra o lado de fora, sabendo que é no grande lado de fora, no tumulto e comoção do mundo, que o potencial reside radicalmente – rente ao perigo contínuo? Como lutar com os horrores do passado sem paradoxalmente se atar a eles como Sísifo numa tentativa de exorcizá-los através de feitos de memória e análise (termináveis ou intermináveis)? Como não possuir o passado mas repossuir o futuro desse passado? Em A Manga Perfeita, Erin Manning traça um caminho de resistência, resiliência e jornada rumo à saúde que é claramente diferente das estratégias baseadas-na-identidade atualmente dominantes. Ela escreve a sobrevivência, naquilo que pode ser melhor descrito como uma autobiografia fabulatória que está enraizada em eventos reais mas que os abre uns para os outros e para um futuro diferente. O caminho está sinalizado com um lema, implícito aqui, posteriormente expresso no título de um de seus trabalhos de filosofia: sempre mais do que um. Se esta sou eu… o que mais? Se isto é a vida… mais uma vez!

~ Brian Massumi

Da sabedoria do prefácio que fala na voz da experiência através das décadas, dirigindo-se ao leitor a respeito da voz da inocência que há muito tempo escreveu, até a última palavra do feroz bildungsroman* em sintaxe insipiente que procede na velocidade do pensamento, este livro se recusa a se retirar de si mesmo. Uma estrutura episódica, destilada de dezenove dias consecutivos de escrita – parte diário e parte performance na página – tempera sua narrativa de trauma caleidoscópica em valências perspicazes de pressão e liberação. Conversa com Zaratustra de Nietzsche como guia periódico, sua complexidade e compaixão imensas, um exemplar inicial do dom dessa pensadora poderosa: a escrita ressurgindo da filosofia. A Manga Perfeita nos transporta através da dor e do sofrimento com autoridade e graça consumadas. É uma perseguição intransigente, uma busca sensorial que sente e desmorona verdades, transformando a dor em uma lente e uma luz que nos coloca cara a cara com o desconhecido.

~ Matthew Goulish and Lin Hixson

Intensivamente íntimas, dolorosamente cativantes, as memórias de Manning nos oferecem um testemunho sem fôlego da vulnerabilidade. Cuidado, abuso, medo, êxtase são expostos em páginas rasgadas em força e entrega corporal. As sementes da fascinação filosófica de Manning pelo movimento e pelo momento, pelo toque e pela dor, se infiltram nessa história de amor. Usando um ‘você’ genérico para se referir a amantes, mães e outros singulares, ela desfia um tecido de multiplicidade que deixa o leitor ofegante/ávido por corrimãos. Um livro de agora que foi então… e então…

~ Sher Doruff

A Manga Perfeita

This is a Portuguese translation of The Perfect Mango

O abuso sexual e o abuso de todos os tipos despedaçam o corpo. Fendem a experiência num antes e depois. Em meu caso, no entanto, o tempo foi muito mais tortuoso. O que é uma experiência que te leva com ela? Como falar de atos que multiplicam, de modos de vida que parecem causar tais atos? Como falar de uma vida pronta para se revelar?

~ Erin Manning, Prefácio, A Manga Perfeita

A Manga Perfeita é um livro sobre o corpo, sobre aprender a vê-lo como uma entidade que não tem fim, algo que nunca é permanentemente marcado pela violência da história, que pode nadar para dentro de uma nova pele. O trauma sexual que assombra este livro está sendo pintado e expurgado em suas páginas, e a jovem mulher que se recusa a permanecer presa na captura do trauma também está aprendendo a se alimentar, a se tornar um corpo-ser que irá perdurar em novas formas e através de novas formas de criação mútua. Eu conheço essa garota, porque ela é muitas. Eu amo essa garota, como amo todos nós – os desajustados cujo sofrimento nos provoca a viver através de outros estilos e modos de nos-tornarmos-juntos.

~ Julietta Singh, Posfácio, A Manga Perfeita

Em 1994, aos vinte e cinco anos de idade, quando o terrível “despedaçamento que vem com a agressão sexual” dobrou-se profundamente em seu corpo e pensamentos de suicídio estavam sempre por perto, Erin Manning escreveu A Manga Perfeita num estado quase febril: dezenove capítulos em dezenove dias, uma espécie de operação de auto-resgate, onde a escrita tornou-se uma maneira de fazer (e sentir) a vida de outra forma. Ao longo desses dezenove dias, e embora não capaz de articular completamente para si mesma na época, Manning escreveu-se para dentro “de uma composição que pergunta de que outra forma a vida poderia ser vivida”. E nos ritmos dessa composição, que era também uma vida, Manning foi e é capaz de recusar a categoria e norma e imobilidade da “vítima” (enquanto ainda compreende as heranças da violência) a fim de seguir em vez disso o mais-que-eu assim como a alegria do “mais-que da experiência no fazer”.

Vinte e cinco anos depois, Manning permite que esses escritos anteriores encontrem seu caminho de volta ao mundo, o que é uma maneira de dar “voz a esses momentos de sobrevivência confusos” enquanto também pede a nós, que compartilhamos (e ajudamos a suportar) tais momentos enquanto leitores, que consideremos “outras formas de escutar a urgência que é viver”. Republicar o livro agora é dar-lhe um lugar no mundo de uma maneira que honre sua força como algo que está sempre além da reivindicação de qualquer um, mesmo de Manning. Nesse sentido, A Manga Perfeita nos convida, com Manning, a estar em excesso de nós mesmos, e também a considerarmos, nas palavras de Manning, “como criar condições para viver além da crença feroz do humanismo de que nós, os privilegiados, os neurotípicos, os ainda incólumes, os corpos-capazes, é que guardamos a chave para todas as perspectivas no teatro da vida”. Por fim, A Manga Perfeita e as reflexões de Manning a respeito de sua composição pedem que consideremos “viver na feroz celebração de um mundo inventado por esses modos de vida que rasgam o tecido colonial, branco, neurotípico da vida como a conhecemos.”

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